01. Decadência

20XX - Tokyo, Nerima
Dia 01, 22:39

O sol cai, o céu enegrece e a cidade renasce, mais uma vez. Aos poucos, as milhares de luzes encandeiam a cidade de Tokyo, ofuscando as estrelas e o luar. Os carros passam em um frenesi, deixando seus rastros de luzes vermelhas pelas ruas. Luzes neon dão cores às construções, azul, verde, púrpura, um festival de cores. A cidade está vívida, dança em seu festival de cores, os holofotes iluminam as nuvens; businas, sirenes, música... e tudo acontece como deveria - exceto, senão fosse por aquele oco, quase imperceptível, quase.

Uma brisa pesada, carregada de algo soturno, fazia tremular aquelas vestes - outrora brancas - repletas de nódoas vermelhas. A marca do luar brilhava à meia luz. O olhar frio sustentava-se sobre o corpo caído, que deixava aquele charque rubro e quente - que agora esmaecia - na cobertura, no topo de um dos prédios mais altos do bairro. A face estava virada para o chão, enquanto aquela cauda cintilante penetrava-lhe as costas. Urros abafados ainda persistiam em sair, quase inaudíveis, enquanto aproximava-se da borda.

Ainda enxergava, podia ver a calçada lá em baixo, a algumas dezenas de metros de distância. O desespero fazia-lhe suar, ressoando em sua mente qualquer cântico que lhe confortasse a, agora ínfima, existência - que cessava, enquanto via aquelas pedras cinzentas aproximarem-se em um piscar de olhos. Até nada sentir. Mesmo de longe, podia-se ouvir o baque do corpo colidindo. E que vinhesse o próximo - e assim, estava oficialmente declarada a guerra.

20XX - Tokyo, Nerima
Dia 01, 23:58

As sirenes e businas ganham a disputa frenética nas avenidas de Toshima, os carros abrem espaço para as ambulâncias e à polícia, que vinha em peso. Três carros da Polícia de Tokyo cortam os carros, abrindo caminho com ímpeto até o local do desastre. Os homens descem do carro - ainda quase em movimento - e isolam a área rapidamente. Três também eram os corpos sob seus pés.

O sangue já estava seco, era uma noite insólita de inverno, que fazia de vapor cada respiração pesada que vislumbrava a cena lúgubre. Estavam desfigurados, com os olhos sobressaltados, fora dos glóbulos, olhos tão escuros como a noite. Em cada um havia um buraco, das costas até a boca do estômago. Parte dos ombros estavam devorados. Na parede, jazia em sangue: THE WAR'S FOUNTAIN. Não havia dúvidas, só podia ser obra dos ghouls. Um dos tiras apontava para cima, dando apenas tempo de seu chefe ver aquela máscara negra e diabólica, como se tivesse sido encomendada diretamente do inferno, além dos cabelos límpidos como a neve esvoaçarem ao vento, em partida, com uma calma sobrenatural. Um alvoroço fora do limite de isolamento se formava, com pelo menos uma centena de curiosos.

Aqueles - além dos que correram e não ficaram para olhar - eram as primeiras testemunhas do que estava por vir. Pavor, era a expressão que residia na face daqueles céticos nauseados, que olhavam com demasiado espanto, lendo letra por letra, que escorria até a base do muro, em um aspecto nefasto.

Um jogo de poder. Traição. Ambição. Tratados antigos quebrados. O Distrito Nerima, 20, conheceria, a partir de hoje, o terror de estar entre uma disputa de territórios das maiores máfias dos distritos adjacentes.

20XX - Tokyo, Toshima
Dia 02, 03:47

Sentavam-se à mesa as quatro mulheres, junto de quatro homens, enchendo-a. Cálices eram servidos para cada um, com um líquido viscoso e de cor que tendia de um vermelho opaco à algo mais escuro; no entanto, não havia nenhum banquete, senão a excessiva tensão que repousava em seus olhares, que deleitaria seus recém declarados inimigos - pelo menos, de forma oficial.

Em uma extremidade da mesa, sentava-se ela, Meline Christiane De La Fontaine, uma das mulheres de grande influência no submundo da central de Tokyo. Não resistira, e agora seus olhos brilhavam escarlates, com sua máscara negra de lobo. Levava a sua mão até o lado direito da cabeça, como se sentisse uma forte dor. Lá, também estavam Stéphanie Roux, Adrianna Pettigrew e Ishikawa Akira, com suas infames máscaras de Chacal - ainda não eram tão reconhecidas, mas isso logo mudaria. O mundo conheceria suas garras. Do outro lado, estavam quatro figuras misteriosas, que não pertenciam àquele lugar - uma tríade que passava sensações lúgubres e nefastas. O do meio, com sua máscara branca requintada por um C cortado por um tridente emitia uma enorme pressão.

Pairava no ar um silêncio que só se ousa interromper com muita coragem e petulância, de romper aquele momento único. Os braço estavam postos sobre a mesa, em uma posição reflexiva. O líder das três figuras insólitas considerava algo, não deixando de sustentar o olhar cintilante em Meline, que parecia-lhe corroer a máscara e penetrar-lhe a pele até os ossos. Por fim, quebrava-se o silêncio, com a conclusão final — O acordo... - a voz fria elevava-se, junto do homem que levantava-se da cadeira, acompanhado de seus seguidores, em uma breve pausa — Está fechado. Por meu nome tens minha palavra, esta guerra também será comprada por nós - completava, com sua voz possante.

E ali, as oito figuras permaneciam em pé, trocando mesuras de confiança; enquanto seus instintos estavam afiados, com toda a desconfiança que lhes cabia.

A Yakuza entrava em guerra com a L'orchidée Noir no vigésimo distrito, e cada uma buscava os seus estimados aliados para vencer a guerra por aquele - outrora - pacífico território. O jogo estava apenas começando.